A degradação dos afluentes do Rio Amazonas


Dando continuidade ao nosso tema “diminuição da biodiversidade na Amazônia”. Comento aqui sobre algo que assusta - a destruição dos principais afluentes do rio amazonas.
Todos sabem que menos de 3 % de toda água do mundo é doce, e dessa pequena porcentagem, 75% pelos menos esta em forma sólida (gelo) o restante em lençóis subterrâneos, lagos e rios, sendo que o mais importante deste ultimo é o Rio Amazonas, que possui nada menos que 15% a 25% de toda água doce em estado liquido e a olho nu do planeta.
É tanta água que 150 km mar adentro, após sua desembocadura no oceano atlântico, a salinidade oceânica é reduzida consideravelmente. É a maior bacia hidrográfica do mundo, o 2° mais extenso rio do planeta, só o Nilo é maior, e possui mais de mil afluentes .
O amazonas nasce nas cordilheiras dos Andes, no Peru, em uma região quase desértica, no meio de um enorme paredão e se estende até o Amapá. E possui como afluentes principais o rio negro, o rio madeira, o rio tapajós e o Xingu; o rio araguaia-tocantins não derrama sua água no amazonas, mas aqui pretendo comentar sobre ele também.
E começo pelo rio negro, que se encontra com o Solimões e a partir daí o caudaloso rio passa a se chamar amazonas, nas nascentes dos afluentes do rio negro, lá na Colômbia, vem ocorrendo a derrubada das matas ciliares (matas que protegem os rios) à plantação de folha de coca para posterior refino da cocaína, que será mandada para os EUA, este por sua vez tenta frear a entrada de drogas no país, umas de suas medidas de contenção de drogas é o derrame de substancias químicas sobre a plantação e dar área em volta desta, o problema esta justamente ai, estas plantações localizam-se próximo as margens dos rios, e a substancia jogada destroem as matas ciliares causando o assoreamento do rio.
Já no rio negro ocorre o despejo de esgoto e lixo de Manaus e de outras pequenas cidades. O rio que é negro, devido aos sedimentos, está ficando sujo por causa do esgoto não tratado.
O rio madeira é outro problema, neste rio a retirada de madeira e a deposição dessas toras (madeira nobre da Amazônia retirada muitas das vezes ilegalmente) no rio para a venda às madeireiras vem causando naufrágios, pois muitas torras são levadas pelo rio na época das cheias para o fundo e os barcos acabam batendo e naufragando. Aqui neste rio também e lavado mineiros como o ouro, o que é feito com mercúrio, que polui o rio. Na sua nascente na Bolívia acontece o problema causado pela pecuária e a poluição por esgoto e lixo urbano, o problema da pecuária atinge também o Xingu, assim como no rio madeira a pecuária extensiva consome áreas muito grandes que chegam as nascentes dos rios .
O rio Araguaia-Tocantins é um caso a parte, pois por serem os rios das hidrelétricas sofrem com problemas ambientais causados por elas, esses problemas aumentarão pôquer o governo pretende construir mais 80 hidrelétricas com o passa dos anos .
Não é necessário que eu acrescente números e estimativa a este texto, pois apenas com essas informações acima expostas já se entende que o caso é alarmante.
Só lembrando que a importância do rio não é apenas pela quantidade de água consumível que ele comporta, mas também por uma enorme diversidade de organismo que ele sustenta diretamente ou indiretamente, é por isso que seus afluentes são tão importantes.
(Wellington Luz)

Pecuária é a maior culpada pelo desmatamento.

Após escrever sobre o que o aquecimento global vem causando na Amazônia, vou postar um artigo da agência O Globo:

"Entre agosto de 2001 e agosto do 2005 foram desmatados 25,5 mil quilometros quadrados de floresta amazonica. Após tres meses , o grupo do governo federal formada para descobrir as causas do problema constatou que pecuaristas, plantadores de soja, grileiros de terras e madeireiros fizeram o desmatamento aumentar. O documento, finalizado em outubro deste ano por autoridades de doze ministérios, mostra que as causas do desmatamento podem extrapolar a influência direta dos governos federal e estaduais. 'No entanto, tem existido uma série de deficiências e contradições históricas no conjunto de políticas públicas que tem exercido uma forte influência', diz o relatório. Uma delas, talvez a principal, seja a abertura de estradas e outras obras de infra-estrutura na região amazônica que não levam em conta os danos ambientais. Estima-se que 75% do desmatamento na amazonialegal entre 1978 e 1994 tenham ocorrido em uma faixa de 50 quilometros de cada lado das rodovias que foram abertas na região.
Segundo o relatório, as obras de infra-estrutura tendem a aumentar a valorizaçlão da terras antes mesmo do seu início. 'Em muitos casos a mera expectativa de grandes obras estimula a espéculação, grilagem de terras, migrações e abertura de novas frentes do desmatamento', diz o documento. A incapacidade do Estado de fazer com as estradas, ações complementares que impeçam o desmatamento é um dos pontos levantados pelo grupo interministerial.
A pecuária continua sendo a maior responsável pela destruição ambiental da região. 'A pecuária é responsável por 80% de toda a área desmatada na Amazônia Legal', diz o documento, que aponta a disponibilidade de terra barata e, em muitos casos, a falta de cumprimento das leis ambientais e trabalhistas como fatores para a expansão da atividade na Amazônia. Mas o estudo reconhece que, muitas vezes, a pecuária apenas ocupa terras que foram desmatadas por outras formas de ocupação humana. 'Os principais agentes do desmatamento para a implantação de pastagens são grandes e médios pecuaristas', afirma o documento

(Luis Henrique)

O caso da Natura


Dando continuidade ao texto que fala sobre A biopirataria e a questão da ética. Falaremos agora sobre O caso da Natura.

Polêmica entre Natura e Ver-o-peso expõe dilemas na proteção de conhecimentos tradicionais no Brasil

As tradicionais vendedoras de ervas do mercado Ver-o-peso, em Belém do Pará, acusam a empresa Natura, que atua no ramo dos cosméticos de se apropriar de conhecimentos tradicionais para a fabricação de perfume. No dia 23 de maio de 2006, a empresa divulgou carta(segue abaixo) justificando sua conduta conforme a legislação vigente.


A Natura, o Ver-o-Peso e o Estado do Pará
Cajamar, 23 de maio de 2006
A Natura, como é de conhecimento público, vem debatendo com vendedoras de ervas do Mercado Ver-o-Peso o tema da utilização do conhecimento tradicional de essências aromáticas da floresta amazônica para produção de perfumes. O impasse começou a ganhar forma em outubro de 2005 quando pesquisas realizadas pela companhia foram questionadas junto a Ordem dos Advogados do Brasi/Seção do Pará e, logo a seguir, ganhou a mídia, na forma de denúncias quanto aos procedimentos dos trabalhos levados à prática.
Diante desses acontecimentos, a Natura, em respeito à opinião pública e em harmonia com o marco regulatório governamental, vem buscando dois caminhos principais de diálogo, simultâneos e interligados. De um lado, enfatiza a sua disposição para o diálogo e o entendimento, determinada que está em valorizar o Mercado Ver-o-Peso e as ervateiras da região, sempre orientada pela atuação transparente e construção de parcerias. De outro lado, tem se empenhado em tornar cristalino o seu posicionamento quanto à utilização de ativos da biodiversidade brasileira em suas linhas de produto, assinalando jamais ter cometido qualquer ilegalidade, inclusive porque o uso de conhecimento difuso, isto é, sem fonte determinada, não é regulado por lei no País. Além de discutível, a remuneração ao conhecimento tradicional difuso, da forma como o assunto é abordado pelo legislação existente, pode trazer riscos ou inviabilizar iniciativas que busquem a promoção de negócios sustentáveis.
OS FATOS. Para alimentar sua plataforma tecnológica, baseada no uso sustentável de ativos da floresta, a Natura investe recursos em pesquisa e busca inspiração em múltiplas fontes, tais como literatura acadêmica e popular, fornecedores de matérias-primas, comunidades agrícolas e extrativistas e mercados populares. Dentre as muitas missões que realizou para conhecer as práticas de manejo e as tradições culturais associadas ao desenvolvimento de óleos essenciais de Priprioca – como, por exemplo, à Ilha de Silves, no Estado do Amazonas, ou ao centro de pesquisa da Universidade de Campinas, UNICAMP, no Estado de São Paulo –, a Natura visitou o Mercado Ver-o-Peso, em Belém. Ali, entrevistou comerciantes de ervas com a finalidade de produzir um vídeo para uso institucional e não para ajudar a desenvolver a tecnologia de extração e formulação das fragrâncias.
Isto porque este processo é extremamente complexo. Na realidade, o desenvolvimento de óleos extraídos da Priprioca envolve casas de perfumaria especializadas que operam mundialmente e que detêm know-how tecnológico por vezes desconhecido no Brasil. A esses óleos essenciais as casas de perfumaria somam entre 100 a 200 substâncias que vão sendo incorporadas até chegar ao produto final.
Contudo, por reconhecer que o Mercado Ver-o-Peso é um importante símbolo das tradições populares paraenses e brasileiras procuramos divulgar – sempre de forma transparente e aberta – as tradições relacionadas com o hábito da perfumação em nossa comunicação institucional e comercial. Em outras palavras, a Natura buscou inspiração no Mercado Ver-o-Peso da mesma forma que em diversas outras localidades. Vale lembrar ainda que a companhia remunerou devidamente os expositores filmados pelos direitos de uso de imagem, informando a todos as finalidades do documentário.
INVESTIMENTOS E INCLUSÃO SOCIAL. A presença da Natura no Estado do Pará tem gerado, nas últimas décadas, resultados expressivos para os muitos públicos de relacionamento da empresa e para a sociedade em geral. Esses resultados decorrem de diversas iniciativas que desenvolvemos e que continuaremos a desenvolver na região.
A Natura cria oportunidades de trabalho e renda para um grupo de cerca de 20 mil Consultoras Natura, que são as responsáveis por comercializar nossos produtos junto aos consumidores. Por meio dessa atividade, cada uma dessas mulheres obteve um ganho médio no ano passado de R$ 2.4 mil. Estamos também investindo recursos em uma unidade industrial, a primeira fora do Estado de São Paulo, que envolverá cerca de 2.300 famílias, em 23 municípios do Estado, no fornecimento de oleaginosas e frutos para a produção de óleos da biodiversidade brasileira para utilização em nossos produtos.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Finalmente, é importante reforçar que o nosso modelo de negócios tem permanentemente buscado conciliar geração de renda com conservação da natureza e justiça social. Nesse contexto, inovar significa não somente lançar novos produtos, mas primordialmente tirar o melhor proveito de nosso jeito de fazer negócios para identificar novas formas de inclusão social e preservação da natureza.
Aqueles que acompanham a trajetória e torcem pelo sucesso da Natura sabem que acreditamos, genuína e intensamente, que “floresta em pé é um bom negócio”, embora cientes de que toda atividade pioneira possui riscos. Por fim, reforçamos nosso compromisso com o Estado do Pará e com o desenvolvimento sustentável da região Norte. E no construtivo diálogo com as comunidades regionais, e com aqueles que trabalham no Mercado Ver-o-Peso, em particular.

A polêmica revela a inadequação da legislação que protege os conhecimentos tradicionais e o longo caminho ainda a percorrer para a construção de uma relação entre o setor privado e comunidades tradicionais.

Como podemos notar a Natura, está envolvida em uma polêmica com vendedoras de ervas do tradicional mercado Ver-o-peso. A empresa entrevistou algumas ervateiras há cerca de três anos sobre seus conhecimentos na manipulação de ervas que contém três essências aromáticas - a priprioca, o breu branco e o cumaru - e o material gravado em vídeo foi utilizado pela empresa para promoção de seus produtos, “justamente para valorizar a tradição da população do Norte”, nas palavras do vice-presidente de inovação da Natura, Eduardo Luppi. As vendedoras afirmam que foram pagas na ocasião pelo "uso da imagem", mas não pela cessão dos saberes.

Em comunicado, a empresa afirma que não se aproveitou das vendedoras e que "o uso de conhecimento difuso, isto é, sem fonte determinada, não é regulado por lei no País. Além de discutível, a remuneração ao conhecimento tradicional difuso, da forma como o assunto é abordado pela legislação existente, pode trazer riscos ou inviabilizar iniciativas que busquem a promoção de negócios sustentáveis." A empresa esclarece ainda que as filmagens serviriam para vídeos institucionais e "não para ajudar a desenvolver a tecnologia de extração e formulação das fragrâncias".
A Natura sustenta, portanto, que a legislação sobre acesso a conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade (Medida Provisória 2.186-16, de agosto de 2001) não se aplica ao caso. Mas esta interpretação está longe de encerrar a polêmica. O caso entre Natura e as vendedoras de ervas do Ver-o-peso está sendo analisado por uma comissão de bioética da Ordem dos Advogados do Brasil, seção paraense, e também pelo Ministério Público Federal e Estadual, no Pará. “Estamos com um procedimento administrativo aberto para apurar se a legislação foi cumprida ou não”, diz o procurador Alexandre Soares, do MPF.

A referida legislação exige a repartição dos benefícios, econômicos e não-econômicos, derivados do uso do conhecimento ou do recurso genético para fins de pesquisa científica, bioprospecção ou desenvolvimento tecnológico. A legislação não prevê qualquer exceção referente à “conhecimento tradicional difuso” ou de “domínio público”. Portanto a empresa estaria obrigada, assim, a obter autorização de acesso do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen) e estabelecer uma negociação de repartição de benefícios com as vendedoras de ervas, por meio de um contrato aprovado pelo conselho, colegiado governamental responsável por controlar o acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade brasileira e vem há mais de dois anos discutindo o conceito de acesso a conhecimento tradicional associado à biodiversidade. "Embora a empresa argumente que o desenvolvimento tecnológico independe do conhecimento tradicional acessado, essa circunstância não afasta a aplicação da MP, já que o objetivo do acesso ao conhecimento sobre as ervas foi desenvolver – ainda que através de técnicas próprias – um produto derivado da biodiversidade para o mercado", afirma Fernando Mathias, advogado do ISA especializado no tema.
A Medida Provisória conceitua “acesso a conhecimento tradicional associado” como “obtenção de informação sobre conhecimento ou prática individual ou coletiva, associada ao patrimônio genético, de comunidade indígena ou de comunidade local, para fins de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção, visando sua aplicação industrial ou de outra natureza”.
Valorização da biodiversidade
O advogado Fernando Mathias, do ISA, lembra que o argumento de que qualquer conhecimento tradicional é de “domínio público”. “Estas corporações se utilizam de conhecimentos sobre o manejo de plantas e animais visando aplicá-los a processos de bioprospecção ou desenvolvimento tecnológico, com o objetivo de lançar produtos no mercado. “A reticência deste laboratório em se submeter ao Cgen chegou a render uma briga judicial, e o caso é reconhecido hoje como um exemplo de biopirataria nacional, na medida em que houve a apropriação de um conhecimento compartilhado coletivamente através de instrumentos de propriedade intelectual, as patentes”.
O advogado do ISA ainda diz que, se por um lado a noção de “domínio público” anula os direitos coletivos de povos ou comunidades detentoras de conhecimentos ligados à biodiversidade, por outro lado o modelo de repartição de benefícios estabelecido pela legislação atual traz inúmeras dificuldades, na medida em que exige a identificação de um “titular” do conhecimento tradicional acessado, que fará jus à repartição de benefícios através de um contrato. “No entanto, como a ampla difusão é um traço característico dos conhecimentos tradicionais detidos por milhares de comunidades indígenas, locais, quilombolas, ribeirinhas etc., a identificação de um titular é feita necessariamente em detrimento de outras que fazem parte de um universo indefinível”.
Fernando Mathias sublinha que a polêmica entre a Natura e o Ver-o-peso revela que o atual sistema baseado unicamente em contratos regidos pela legislação civil não é adequado. “Isso exige uma outra abordagem para além do que hoje prevê a legislação de acesso, incorporando noções de direitos coletivos (além dos direitos individuais) sobre conhecimentos tradicionais enquanto patrimônio imaterial compartilhado e coletivamente construído”, afirma. “O desafio é criar instrumentos para repartir benefícios a partir desses princípios. Nesse sentido, o setor privado ainda tem longo caminho para criar e cultivar laços de confiança junto a comunidades locais culturalmente diferenciadas, com vulnerabilidades econômicas diante da realidade corporativa de grandes empresas”.

(Marcos Carvalho)